O MAIOR EVENTO HISTÓRICO DE CADA DÉCADA
- Canal Cultura POP
- 13 de mai.
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A história humana é repleta de eventos que mudaram completamente os rumos do planeta. Nos últimos cem anos, essas mudanças tornaram-se cada vez maiores. Com o avanço tecnológico e a globalização, o que afeta um país, afeta todos. Hoje, vamos passar pela história da humanidade no último século, vasculhando seus momentos mais decisivos, de guerras á revoluções, de descobertas tecnológicas a doenças, sem mais delongas, vamos para mais uma viagem no tempo.

(O MAIOR EVENTO HISTÓRICO DE CADA DÉCADA)
1920- Crise de 1929

O período pós Primeira Guerra Mundial foi devastador para as potências europeias. Reino Unido, França, Itália e, especialmente, a Alemanha, precisaram arcar com bilhões em gastos para reconstrução de suas cidades e pagamento de reparações militares. A Alemanha, como principal culpada pelos horrores da guerra segundo o Tratado de Versalhes, foi duramente penalizada.
Enquanto o Velho Mundo se reconstruía, os Estados Unidos despontavam como a grande potência econômica global. Com uma indústria intacta e em crescimento, o país passou a financiar a recuperação de diversas nações, tornando-se indispensável no comércio internacional. O estilo de vida americano, o American Way of Life, virou sinônimo de sucesso, marcado pelo consumismo, crescimento industrial e ascensão de figuras como Henry Ford, que revolucionaram a produção com o modelo fordista.
Entretanto, o boom econômico escondeu fragilidades. O mercado financeiro crescia de forma desenfreada e desregulada, incentivado pelo próprio governo. A especulação exagerada na Bolsa de Valores de Nova York, somada à superprodução industrial e à corrupção entre magnatas de Wall Street, levou ao inevitável colapso. Com a recuperação da indústria europeia no fim da década, os produtos norte-americanos começaram a encalhar.
O ponto de ruptura veio em 29 de outubro de 1929, a chamada "Quinta-feira Negra", quando a bolsa quebrou e arrastou consigo a economia mundial. Milhões perderam seus empregos e lares em questão de semanas. Charles E. Mitchell, uma das figuras centrais da crise, tentou conter a situação, enquanto o presidente Herbert Hoover adotou uma postura passiva, incapaz de responder à gravidade da tragédia.
Em 1932, Franklin D. Roosevelt foi eleito com esmagadora maioria e implementou o "New Deal", um ambicioso programa de recuperação econômica. Com medidas como a criação da Previdência Social, Seguro-Desemprego e estímulo às obras públicas, Roosevelt iniciou a reconstrução da confiança no sistema americano.
No Brasil, a crise afetou diretamente a economia cafeeira durante o governo de Getúlio Vargas. Parte dos estoques foi queimada para conter a queda de preços, e os recursos foram redirecionados à industrialização, início de uma transformação no modelo econômico nacional.
A cultura também reagiu à crise. O cinema de Charlie Chaplin, com obras como Tempos Modernos e Luzes da Cidade, retratou com crítica e humanidade o sofrimento da população. Já na Europa, a instabilidade alimentou o avanço de regimes autoritários, como o nazismo e o fascismo, enquanto a União Soviética ganhava força fora do sistema capitalista.
A Grande Depressão deixou marcas profundas em todo o planeta, moldando os rumos políticos, econômicos e sociais da década seguinte, que culminariam na Segunda Guerra Mundial.
1930- Ascensão do Autoritarismo

A Segunda Guerra Mundial teve origem no ressentimento alemão após o Tratado de Versalhes, que impôs duras punições à Alemanha. Esse cenário de crise e humilhação foi o combustível para a ascensão de Adolf Hitler, que, com discursos inflamados e ideologia ultranacionalista, levou o Partido Nazista ao poder.
Hitler ignorou os acordos de paz, rearmou o país e formou o Eixo com Mussolini (Itália) e Hirohito (Japão). Enquanto isso, França e Reino Unido tentavam evitar outro conflito, apostando na chamada Política de Apaziguamento. No Acordo de Munique, Neville Chamberlain cedeu os Sudetos a Hitler, na esperança de conter sua ambição — sem sucesso.
Em 1939, Hitler assinou um pacto com Stalin (Pacto Molotov-Ribbentrop), dividindo a Polônia entre Alemanha e URSS. Dias depois, invadiu o país, forçando França e Reino Unido a declarar guerra.
A Alemanha avançou rapidamente, usando a tática da Blitzkrieg, conquistando vários países europeus em semanas. Em 1940, a França caiu e os britânicos ficaram sozinhos contra Hitler. Enfraquecido, Chamberlain deixou o cargo, e Winston Churchill assumiu o governo.
Churchill se recusou a negociar com Hitler e declarou:
´´Lutaremos nas praias, nos campos e nas ruas... nunca nos renderemos."
Seu discurso inflamou a resistência britânica e marcou o início da luta contra o totalitarismo.
1940- A Segunda Guerra Mundial

A guerra tomou rumos dramáticos nos anos 1940. Isolado, o Reino Unido resistiu bravamente aos bombardeios alemães durante a Batalha da Inglaterra, liderado pelo incansável Winston Churchill. Enquanto isso, Franklin Roosevelt, embora pressionado por políticos isolacionistas nos EUA, começou a apoiar os britânicos e chineses contra as forças do Eixo.
Mas foi o ataque japonês a Pearl Harbor, em dezembro de 1941, que virou o jogo. A ofensiva surpresa enfureceu os americanos, levando os Estados Unidos à guerra. Poucos dias depois, Hitler declarou guerra aos EUA, selando o destino do conflito.
No leste, a Alemanha traiu Stalin e invadiu a União Soviética, dando início à brutal Operação Barbarossa. A resistência soviética, o inverno rigoroso e a batalha decisiva de Stalingrado em 1943 viraram a maré contra os nazistas.
No oeste, os Aliados preparavam seu maior movimento: o Dia D. Em 6 de junho de 1944, tropas de 14 países desembarcaram na Normandia, reabrindo a frente ocidental e acelerando o colapso alemão. A Itália já havia sido invadida, e tropas brasileiras da FEB lutaram na campanha da Península.
Com Berlim cercada em 1945 e Hitler encurralado, o líder nazista comete suicídio. Pouco depois, a Alemanha se rendeu. O Japão, porém, recusava-se a capitular. Para evitar uma invasão sangrenta, os EUA lançaram duas bombas atômicas, desenvolvidas no Projeto Manhattan sob a liderança de Robert Oppenheimer. Hiroshima e Nagasaki foram destruídas.
Em 2 de setembro de 1945, o Japão se rendeu. A guerra mais mortal da história chegava ao fim.
1950- Descolonização Afro-Asiática

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os impérios europeus estavam enfraquecidos, enquanto os ventos da liberdade sopravam nas colônias da Ásia e da África. Povos que haviam lutado ou sido explorados durante o conflito começaram a exigir independência e autodeterminação.
Nos anos iniciais da década, movimentos anticoloniais se intensificaram. A Índia, sob a liderança de Jawaharlal Nehru, já havia conquistado sua independência em 1947, e logo seria seguida por países como Indonésia, Filipinas e Vietnã. Mas foi a África que veria a explosão de libertações nos anos seguintes.
O ponto culminante veio em 1955, com a Conferência de Bandung, na Indonésia. Reunindo líderes de 29 países da Ásia e da África, o evento simbolizou o nascimento do Terceiro Mundo: um grupo de nações que buscava uma via própria, nem capitalista, nem comunista.
Lideranças como Sukarno (Indonésia), Kwame Nkrumah (Gana), Gamal Abdel Nasser (Egito) e Zhou Enlai (China) defenderam a cooperação entre países recém-independentes, o respeito à soberania e o fim do colonialismo. A conferência deu impulso às lutas de libertação e consolidou uma nova ordem global.
Enquanto isso, potências como França e Reino Unido resistiam ao processo. Conflitos sangrentos, como a Guerra da Argélia e a crise do Suez, mostravam que a transição não seria pacífica em todos os casos.
Ao final da década, dezenas de novas nações já haviam surgido no mapa político mundial, alterando profundamente a geopolítica global.
1960- Revolução Cultural

Nos anos 1960, o mundo assistiu a uma transformação profunda nos valores sociais, políticos e culturais. Após a estabilidade dos anos pós-guerra, uma nova geração começou a questionar tudo: a guerra, a moralidade, a autoridade, a sexualidade e o racismo. Essa efervescência ficou conhecida como a Revolução Cultural Global, com destaque para os movimentos surgidos nos Estados Unidos, mas que influenciaram jovens e intelectuais do mundo todo.
O Movimento pelos Direitos Civis ganhou força com líderes como Martin Luther King Jr. e Malcolm X, lutando contra a segregação racial e pela igualdade entre brancos e negros. A marcha sobre Washington em 1963 e o assassinato de King em 1968 marcaram momentos decisivos.
Ao mesmo tempo, a segunda onda do feminismo eclodia, com autoras como Betty Friedan e militantes como Gloria Steinem denunciando o papel tradicional imposto às mulheres. As mulheres passaram a exigir igualdade de direitos, salários, acesso à educação e liberdade sexual.
A comunidade LGBTQ+ também deu seus primeiros gritos de resistência pública, culminando na rebelião de Stonewall em 1969, em Nova York, quando frequentadores de um bar gay enfrentaram a violência policial, marcando simbolicamente o início do ativismo LGBTQ+ moderno.
Enquanto isso, o movimento hippie propagava uma nova filosofia de vida baseada em paz, amor, comunhão com a natureza e resistência ao sistema. A juventude passou a rejeitar o materialismo e a buscar alternativas espirituais, experimentando novas formas de arte, música e psicodelia. O Festival de Woodstock, em 1969, sintetizou essa revolução estética e ideológica.
No cenário internacional, o Vietnã virou palco de um conflito sangrento e sem sentido para muitos. Milhares de jovens foram enviados à guerra, enquanto protestos contra o envolvimento dos EUA se multiplicavam nas universidades e nas ruas. O símbolo da flor contra o fuzil passou a representar a luta contra o militarismo.
O espírito de contestação atravessou o mundo: na França, estudantes e operários tomaram as ruas em Maio de 1968. No Brasil e em outras ditaduras latino-americanas, movimentos de resistência cultural e armada surgiram. E na China, Mao Tsé-Tung lançou a Revolução Cultural, com motivações e efeitos diferentes, mas igualmente disruptivos.
1970- Boom Cultural e Crise Capitalista

A década de 1970 foi uma das mais paradoxais da história recente: ao mesmo tempo em que o mundo vivia uma efervescência cultural sem precedentes, também enfrentava uma profunda crise econômica e social. A crise do petróleo de 1973 abalou os pilares do capitalismo industrial, desencadeando inflação, desemprego e estagnação econômica, o chamado "estagflação". Nos Estados Unidos, grandes cidades como Nova York mergulharam em um cenário de decadência urbana, com aumento da criminalidade, falência fiscal e abandono dos serviços públicos. Mas foi justamente nesse caos que surgiu uma das mais intensas e criativas explosões culturais do século.
No cinema, o ambiente sombrio e desiludido inspirou uma geração de cineastas da chamada Nova Hollywood. Nomes como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Sidney Lumet exploraram as tensões sociais, a corrupção política e o lado obscuro da alma urbana em obras como Taxi Driver (1976), O Poderoso Chefão (1972) e Um Dia de Cão (1975). Ao mesmo tempo, cineastas como Steven Spielberg e George Lucas abriam caminho para o cinema blockbuster com Tubarão (1975) e Star Wars (1977), oferecendo ao público uma forma de escapismo em meio à instabilidade do mundo real.
A música refletia esse contraste com ainda mais intensidade. Enquanto o rock progressivo e o hard rock lotavam estádios com bandas como Pink Floyd, Queen e Led Zeppelin, o punk emergia nas ruas como uma reação crua e visceral à crise e ao desemprego, com bandas como Ramones e Sex Pistols cuspindo revolta em suas letras curtas e agressivas. Em paralelo, Nova York se tornava o berço do hip hop, nas festas de rua do Bronx, onde jovens marginalizados transformavam sucata urbana em arte por meio de batidas, rimas e grafites. Artistas como Kool Herc e Grandmaster Flash estavam moldando uma revolução cultural que ganharia o mundo nas décadas seguintes.
A disco music, por sua vez, floresceu em meio ao desejo de fuga e celebração, com artistas como Donna Summer e os Bee Gees embalando noites em clubes como o lendário Studio 54. O sucesso de Saturday Night Fever (1977), misturando cinema, música e dança, simbolizava a busca de alívio em meio à tensão cotidiana. Já o soul e o funk, com nomes como Stevie Wonder, Marvin Gaye e James Brown, continuavam sendo veículos de identidade, resistência e afirmação cultural para a população negra americana.
Ao fim da década, a cultura pop dos anos 70 havia se tornado um reflexo direto de seu tempo: caótica, plural, contestadora e, acima de tudo, criativa. Ela brotou das rachaduras deixadas pela crise, floresceu no concreto das metrópoles decadentes e preparou o terreno para uma nova era de transformação cultural no mundo inteiro.
1980- Onda Liberal e Queda do Muro de Berlim

A década de 1980 foi marcada por profundas transformações políticas, sociais e culturais que moldaram o mundo contemporâneo. No campo econômico e ideológico, destacou-se a ascensão da chamada Onda Liberal, protagonizada por Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e Margaret Thatcher, no Reino Unido. Ambos lideraram uma guinada neoliberal que redefiniu o papel do Estado, promovendo a desregulamentação da economia, privatizações em massa, cortes de impostos para os mais ricos e uma ofensiva contra sindicatos e direitos trabalhistas. Era o fim do “Estado de bem-estar” e o início de um modelo centrado no livre mercado, que ampliou o consumo e os lucros empresariais, mas também aprofundou desigualdades sociais e fragilizou políticas públicas, especialmente nos países em desenvolvimento, onde essas ideias foram exportadas via FMI e Banco Mundial.
Paralelamente, o mundo enfrentava o avanço de uma nova e devastadora pandemia: o HIV/AIDS. Detectada pela primeira vez em 1981, a doença espalhou-se rapidamente e foi cercada por estigma, desinformação e preconceito. A comunidade LGBTQIA+, especialmente homens gays, foi apontada injustamente como “grupo de risco” e tratada com descaso por governos e instituições médicas. Durante boa parte da década, a AIDS foi ignorada ou tratada com negligência por líderes políticos, Reagan, por exemplo, só mencionou publicamente a doença após milhares de mortes. O resultado foi uma epidemia não apenas médica, mas moral, em que o preconceito se sobrepôs à ciência e à compaixão. Ao mesmo tempo, surgiram movimentos de resistência e ativismo, como o ACT UP, que colocaram a causa da saúde pública e dos direitos LGBTQIA+ no centro do debate político internacional.
No final da década, o mundo testemunhou uma mudança histórica: a Queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989. O colapso da barreira que dividia a Alemanha desde 1961 simbolizou o desmoronamento da Cortina de Ferro e o início do fim da Guerra Fria. Países do Leste Europeu, como Polônia, Hungria, Tchecoslováquia e Romênia, romperam com regimes comunistas autoritários após anos de protestos, crises econômicas e pressão popular. Mas a virada não foi exclusiva do bloco soviético. Ao longo da década, ditaduras capitalistas também ruíram, como as da América Latina, Brasil (1985), Argentina (1983) e Chile (em transição), marcando um processo global de redemocratização. Foi o crepúsculo de uma era polarizada, e o nascimento de um mundo mais aberto, mas também mais incerto, guiado pelos ventos do neoliberalismo e pelas cicatrizes sociais do passado.
1990- Fim da URSS e Avanços Tecnológicos

A década de 1990 começou com um acontecimento que redefiniria o equilíbrio de poder global: o colapso da União Soviética. Após décadas de rivalidade com os Estados Unidos, o regime comunista soviético não resistiu às pressões econômicas, políticas e sociais que se intensificaram no final dos anos 1980. A liderança de Mikhail Gorbachev, com as reformas da perestroika e da glasnost, abriu caminho para a contestação interna e o enfraquecimento do Partido Comunista. Em 1991, a URSS oficialmente deixava de existir, dando origem a 15 novas repúblicas independentes, incluindo uma Rússia em busca de identidade sob Boris Yeltsin. A Guerra Fria chegava ao fim, e os Estados Unidos emergiam como a única superpotência global, inaugurando o que ficou conhecido como “Nova Ordem Mundial”.
Essa nova ordem, porém, não significou estabilidade plena. Enquanto o Ocidente celebrava a vitória do capitalismo e a promessa de um mundo globalizado, conflitos violentos surgiam em regiões onde a hegemonia soviética havia mantido um frágil equilíbrio. As guerras nos Bálcãs, especialmente na Bósnia e em Kosovo, mostraram que a Europa ainda convivia com nacionalismos sangrentos e limpeza étnica. No continente africano, o genocídio de Ruanda, em 1994, escancarou a omissão das potências diante de tragédias que não afetavam diretamente seus interesses. Ainda assim, o discurso predominante era de progresso: o neoliberalismo avançava pelo mundo, consolidando a ideia de que o livre mercado e a democracia liberal eram o caminho inevitável do futuro.
E foi justamente nessa década de transformações que o mundo testemunhou uma das maiores revoluções da história humana: a explosão tecnológica. A popularização dos computadores pessoais, somada ao nascimento da internet comercial em 1991, transformou profundamente a vida cotidiana. O que começou como uma ferramenta acadêmica e governamental rapidamente se espalhou pelos lares e escritórios, dando início à era da informação instantânea. Empresas como Microsoft, Apple, Intel e, no final da década, Google, redefiniram os rumos da economia e da cultura.
A comunicação foi revolucionada: os e-mails substituíram cartas, os celulares se tornaram cada vez mais acessíveis e a conexão à internet, mesmo ainda lenta, abriu portas para fóruns, chats e os primeiros sites de busca. A cultura digital nascia ali, entre disquetes, ICQ, tamagotchis e as primeiras lojas virtuais. Paralelamente, os videogames evoluíam dos 16 para os 64 bits, com gráficos 3D e narrativas complexas. Consoles como o PlayStation e o Nintendo 64 dominaram o entretenimento juvenil, enquanto a estética cyberpunk, com filmes como Matrix (1999), antecipava as angústias de um novo milênio dominado pela tecnologia.
Assim, os anos 1990 foram uma década de transição, marcada pelo fim de uma era de confrontos ideológicos e pela entrada definitiva no mundo digital, onde a velocidade da informação começava a ditar o ritmo das transformações sociais, culturais e econômicas.
2000- Guerra ao Terror e Crise de 2008

A década de 2000 foi marcada por uma mudança brusca nos rumos da política global, iniciada pelos trágicos atentados de 11 de setembro de 2001, que abalaram os Estados Unidos e o mundo.
O impacto foi imediato: surgia a chamada Guerra ao Terror, liderada por Washington e apoiada por seus aliados ocidentais. Sob o pretexto de combater o terrorismo, os EUA invadiram o Afeganistão ainda em 2001 e, em 2003, lançaram uma controversa ofensiva contra o Iraque, alegando a existência de armas de destruição em massa, nunca encontradas.
Essas ações reconfiguraram o Oriente Médio, provocando longos conflitos, crises humanitárias e alimentando o sentimento antiocidental em várias regiões. Internamente, muitos países ampliaram leis de vigilância, adotaram políticas de segurança mais rígidas e abriram mão de liberdades civis em nome do combate ao terrorismo, dando início a uma nova era de medo, intervenção e controle.
Mas não foram apenas as guerras que definiram a década. Em 2008, o mundo foi surpreendido pela maior crise econômica desde 1929, provocada pela quebra do banco Lehman Brothers e o colapso do mercado imobiliário americano. O sistema financeiro global, altamente interligado e desregulado, entrou em colapso. A recessão que se seguiu teve efeitos devastadores: milhões de pessoas perderam empregos, casas e economias, e governos foram forçados a intervir com pacotes bilionários para salvar bancos e indústrias. O episódio gerou uma onda de descontentamento com o sistema capitalista tradicional, abrindo caminho para críticas mais duras ao neoliberalismo e prenunciando o ressentimento social e político que explodiria nos anos seguintes com movimentos populistas de direita e esquerda.
Paralelamente a esse cenário conturbado, a década de 2000 também testemunhou um salto tecnológico sem precedentes, com impactos profundos e duradouros. A popularização da internet de alta velocidade, o surgimento do YouTube (2005), Facebook (2004) e Twitter (2006) transformaram a forma como as pessoas se informavam, interagiam e consumiam cultura. Em 2007, a Apple lançava o iPhone, iniciando a era dos smartphones e da hiper conectividade, em que redes sociais, e-mails, fotos, vídeos e músicas passaram a caber no bolso. A digitalização da vida cotidiana se acelerou: da música ao jornalismo, dos relacionamentos ao comércio, tudo começava a migrar para o mundo virtual. Nascia ali a base do que viria a ser chamado de sociedade digital, com seus desafios éticos, sociais e políticos ainda em gestação.
2010- Primavera Árabe

A década de 2010 começou com ventos de mudança vindos do norte da África e do Oriente Médio. Em dezembro de 2010, na Tunísia, o suicídio de um jovem vendedor ambulante, Mohamed Bouazizi, em protesto contra a brutalidade policial, acendeu a fagulha de um movimento que logo se espalharia por todo o mundo árabe: a Primavera Árabe. O que começou como um grito por dignidade, liberdade e oportunidades em regimes autoritários, rapidamente se tornou uma onda de levantes populares em países como Egito, Líbia, Síria, Bahrein e Iêmen. No início, a mobilização popular, impulsionada por redes sociais e smartphones, derrubou ditaduras históricas como a de Hosni Mubarak no Egito e Muammar Gaddafi na Líbia, dando esperança a milhões sobre uma nova era democrática na região.
No entanto, as expectativas logo se chocaram com a realidade. Em vários países, o vácuo de poder gerado pelas quedas dos regimes autoritários deu espaço a conflitos sectários, guerras civis e repressões ainda mais brutais. Na Síria, por exemplo, a repressão violenta aos protestos desencadeou uma das guerras mais sangrentas do século, com milhões de mortos e refugiados.
A Primavera Árabe, que começou como um símbolo de esperança, terminou, em muitos casos, em caos, autoritarismo renovado ou guerras prolongadas, frustrando a juventude que sonhava com liberdade e justiça social.
Ao mesmo tempo, o impacto desses levantes reverberou além do Oriente Médio. Eles serviram de inspiração para movimentos de protesto ao redor do mundo, como os Indignados na Espanha, Occupy Wall Street nos EUA e as Jornadas de Junho no Brasil. A ideia de que a mobilização digital poderia derrubar sistemas consolidados ganhou força, e a década se tornou símbolo de um tempo em que a internet deixava de ser apenas um meio de comunicação para se tornar uma ferramenta de ação política global, embora também abrisse espaço para desinformação, polarização e manipulação em larga escala.
Na década de 1970, poderia enfatizar a crise no petróleo