A franquia Harry Potter encerrou-se nos cinemas em 2011, finalizando um dos maiores marcos do choque cultural dos anos 2000, sendo uma das franquias mais influentes de todos os tempos, tanto nos livros, quanto nos cinemas, eternizando sua autora, JK. Rowling e seus principais atores, como Daniel Radclife e Emma Watson, na história da cultura pop. Em 2016, um oitavo capítulo foi desenvolvido em forma de peça de teatro, escrita pela própria JK em parceria com John Tiffany e o diretor, Jack Thorne. A obra se passa dezenove anos após Relíquias da Morte. A trama se presta a desenvolver o futuro dos personagens centrais da franquia clássica, além das aventuras de seus filhos, com destaque para Alvo Severo Potter e Escórpio Malfoy, que enfrentam ninguém mais ninguém menos, que a filha de Voldemort. Hoje, vamos debater, Harry Potter e a Criança Amaldiçoada é realmente ruim como alguns fãs apontam? Ou é uma obra injustiçada?

(Harry Potter e a Criança Amaldiçoada: É Ruim ou Subestimada?)
Enredo

A obra se inicia diretamente após o epílogo de Relíquias da Morte, com a despedida de Harry (Jamie Parker) e Gina (Poppy Miller) de seus três filhos, Tiago (Tom Milligan), Lilian (Zoe Brough) e Alvo Severo (Sam Clemett). Alvo teme ir para a Sonserina e não conseguir ser tão grandioso quanto seu pai. Harry tenta acalmá-lo, mas ainda não sabe ao certo como fazê-lo. Quando seu filho chega a Hogwarts, que para Harry sempre foi uma fortaleza acolhedora, ele vive um ano infernal. Ele é selecionado para a Sonserina, deixando todos boquiabertos durante a cerimônia de seleção: "Um Potter, na Sonserina?!" Além disso, é péssimo em voo, não conseguindo sequer fazer a vassoura subir, muito menos jogar quadribol.
A única coisa boa que Hogwarts lhe trouxe foi seu melhor amigo, Escórpio Malfoy (Anthony Boyle), filho de Draco Malfoy e sua falecida esposa, Astória. Ao contrário de seus pais, que foram rivais durante toda a vida escolar, seus filhos tornam-se quase irmãos. Para eles, Harry e Draco representam coisas parecidas e, ao mesmo tempo, completamente opostas. Harry é o ícone máximo do mundo bruxo, um herói lendário, o que faz Alvo viver à sua sombra, sentindo uma pressão tremenda por ser muito diferente do pai. Já Escórpio carrega o fardo do passado sombrio de sua família, que agora pesa sobre os ombros de seu pai. Boatos circulam sobre seu nascimento, já que Astória supostamente era estéril, e alguns acreditam que Voldemort teve um filho pouco antes de sua morte, sugerindo que Escórpio seria essa criança e que Draco o teria adotado. Enquanto a fama positiva oprime Alvo, a negativa oprime ainda mais Escórpio.
Apesar disso, sua amizade é belíssima, sendo o ponto central da trama, assim como a do Trio de Ouro na saga original. O amor entre pais e filhos, e entre amigos, sempre foi o motor central de Harry Potter, e aqui é explorado com intensidade.
Continuamos acompanhando personagens clássicos como Rony (Paul Thornley) e Hermione (Noma Dumezweni), agora casados e com três filhos. Weasley passou a ajudar Jorge nas Gemialidades Weasley, enquanto Hermione, tornou-se Ministra da Magia, algo condizente com seu brilhantismo. Gina tornou-se colunista de quadribol no Profeta Diária e Harry, Chefe dos Aurores. Para mim, todos menos Harry tem um futuro condizente. Para mim, torna-se um mero funcionário do Ministério, é algo que não combina como alguém ´´antissistema´´ como Harry. Faria mais sentido, que ele se torna-se jogador de quadribol ou tivesse algum cargo em Hogwarts, uma vez que ele sempre teve a escola como seu verdadeiro lar.
Porém, os problemas começam quando Amos Diggory (Barry McCarthy) e sua sobrinha e cuidadora, Delphi Diggory (Esther Smith), visitam Harry exigindo que ele use um Vira-Tempo escondido no Ministério (supostamente o último existente desde a Batalha do Departamento de Mistérios) para salvar Cedrico. Agora como Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia, Harry se sente pressionado. Ele sabe que muitas pessoas, como Cedrico, Remo Lupin, Sirius Black e até mesmo Snape, morreram para que ele sobrevivesse. No entanto, também tem consciência de que não pode permitir que a culpa o consuma, pois mexer no tempo pode trazer consequências desastrosas. Amos se enfurece e, ao escutar a conversa, Alvo também se revolta, vendo seu pai como egoísta e decidindo agir.
No Expresso de Hogwarts, ele convence Escórpio a fugir com ele para encontrar Delphi e juntos roubarem o Vira-Tempo do Ministério. Com sucesso, os dois invadem o escritório de Hermione e começam a viajar no tempo até os eventos de Cálice de Fogo, tentando impedir Cedrico de chegar à última prova, onde foi levado a Little Hangleton junto a Harry. As sequências de viagem no tempo são uma carta de amor aos fãs da saga, permitindo explorar, sob diversos ângulos, momentos icônicos da franquia. Durante suas interferências, eles acabam criando realidades alternativas. Em uma delas, Rony e Hermione nunca se casaram, e Hermione, ao invés de Ministra, tornou-se uma amarga professora de Hogwarts. Em outra, Cedrico (Tom Milligan) torna-se um Comensal da Morte após ser humilhado no Torneio Tribruxo, e, durante a Batalha de Hogwarts, mata Neville, impedindo que Voldemort seja derrotado e levando o mundo bruxo a um reinado de terror.
Eles conseguem retornar à sua realidade original, e Harry e Draco (Alex Price) os repreendem. No entanto, descobrem que Delphi é, na verdade, filha de Voldemort, fruto de uma relação com sua fiel seguidora, Bellatrix Lestrange, pouco antes dos eventos de Relíquias da Morte. Ao descobrir que havia uma realidade onde seu pai saiu vitorioso, ela rouba o Vira-Tempo e tenta restaurá-la, levando os garotos a uma batalha contra ela no passado.
O medo toma conta do mundo bruxo, e Hermione é responsabilizada por Minerva McGonagall (Sandy McDade) pela crise, provando que até mesmo uma heroína brilhante pode cometer deslizes. Draco, que ao longo da trama revive sua antiga rixa com Harry, Rony e Hermione, percebe a necessidade de união para salvar seus filhos e deixa seu orgulho de lado. Em um dos momentos mais interessantes do roteiro, ele admite seu ciúme da amizade entre os três, pois cresceu cercado por bajuladores e não conheceu laços verdadeiros.
O desfecho não será revelado aqui, mas posso afirmar que é emocionante e traz mais uma linda homenagem aos momentos mais marcantes da franquia.
Crítica da Obra
O roteiro de J.K. Rowling e John Tiffany, acerta ao explorar a relação entre pais e filhos, mantendo a essência emocional da saga. No entanto, há alguns problemas que não podem ser ignorados. O passado de Escórpio, apesar de ter potencial, é mal explorado. O mesmo ocorre com Delphi, que, sendo filha de Voldemort e a grande vilã da trama, merecia um desenvolvimento mais profundo. Além disso, sua existência gera inconsistências com a cronologia estabelecida nos livros anteriores. Porém, mesmo com furos em seu passado, ambos os personagens são bem trabalhados. Porém, o destaque vai para Harry e Alvo, que para mim, tem o melhor arco, em seu fortalecimento na relação de pai e filho. Harry mostra-se falho diversas vezes, mesmo sendo um herói, ele também comete erros, e tinha muito a aprender, para torna-se um bom pai. E Alvo, mesmo sendo vítima da idolatria em volta de seu pai, sempre se vitimizou em demasiado, não enxergando as dores de pessoas como Escórpio e até mesmo Harry, algo que ele amadurece ao longo da trama, sempre de maneira ótima através das ótimas atuações.
Muitos fãs consideram a obra uma ´´fanfic oficial´´, uma vez que muitos fãs tomaram a liberdade de esmiuçar o futuro da saga, com tramas consideravelmente bem trabalhadas. Porém, devemos entender o contexto em que obra foi desenvolvida, como uma peça de teatro, tendo sua história limitada a realidade do palco, sendo obrigada a manter certos elementos, como um roteiro não tão aprofundado e mais dinamizado.
No entanto, acredito que dentro do possível, a obra é profunda e emocionante, e na minha opinião passa longe de ser ruim, mas, para alguns fãs, pode ser um tanto raso. No que tange a produção, a obra beira a perfeição técnica.
Sendo para mim, digno de uma nota 8 no conjunto da obra, sendo uma sequência digna, apesar de que se for considerado como um dos livros da série, seria o pior deles, mas ser o pior entre uma saga de obras tão brilhantes, não lhe permite ser considerada ruim.
Obra boa, mas um tanto injustiçada pelo grande público, que tem uma visão afetiva muito forte em relação a obra original, e especialmente aos personagens, e qualquer coisa que desvie o mínimo do que era esperado para o futuro deles, geraria polêmica inevitavelmente. Concordo plenamente, é uma obra limitada, mas sem dúvida, digna no contexto da franquia.