top of page

A Filosofia dos Heróis

Muito além de simples personagens de quadrinhos, os super-heróis, ao longo de suas décadas de desenvolvimento, tornaram-se extremamente complexos. De Batman até Hulk, essas lendas carregam simbolismos e reflexões interessantíssimas, das quais hoje iremos analisar.

A Filosofia dos Heróis

A Complexidade do Hulk

Muitos enxergam o Golias Esmeralda como um mero brutamontes, muito devido à péssima adaptação feita pelo MCU, que além de retratá-lo de forma rasa, destruiu seu lado monstruoso, tornando-o quase um meme dentro do próprio universo.

Porém, Hulk/Bruce Banner talvez seja um dos personagens mais complexos do mundo dos super-heróis.

A lenda da Marvel surgiu com base no clássico O Médico e o Monstro, onde um cientista brilhante cria uma poção capaz de dividir as duas partes de um homem, a boa e a ruim, deixando uma delas tomar conta de si por completo, por um determinado período de tempo. Por meio da máscara de Mr. Hyde, o Dr. Jekill expunha seus próprios podres, o lado de si que tentava esconder, raiva, desejo, sede de sangue, tudo que o homem tem em seu coração, mas luta ao máximo para manter guardado, enfim, sendo expurgado de dentro, sem consequências, sem lembranças.

Com Bruce Banner, as coisas eram semelhantes, ao mesmo tempo que muito diferentes. Desde que foi exposto aos raios gama para salvar a vida de Rick Jones, ele foi condenado a virar o terrível Hulk sempre que sentia raiva ou medo. Ele transformou-se diversas vezes, tornando-se um dos seres mais poderosos da Terra, praticamente invencível, deixando um rastro de destruição por onde passava. Porém, quando voltava a ser Banner, as consequências lhe atingiam. Rick, que havia se tornado seu amigo, lhe temia, sua amada Betty não conseguia se aproximar, pois ele sabia que ela corria perigo ao lado dele. Ao se entregar ao seu lado devastador, Bruce abria mão de tudo que lhe tornava humano.

Até mesmo em adaptações consideradas "toscas", como a série estrelada por Bill Bixby e Lou Ferrigno, na década de 1970, trouxeram muito bem a mentalidade do personagem. Banner sempre começava e terminava os episódios sozinho, perdido, precisando recomeçar, sempre que sua contraparte destruía tudo que fazia bem a ele. Em 2003, Eric Bana trouxe um ótimo Hulk, que assim como a versão setentista, trouxe o lado amargurado e assustado de Bruce, com um algo a mais. Aqui, parece que o cientista sente um certo 'prazer' em se transformar, pois, como Hulk, ele podia se livrar da amargura e do medo que lhe comiam por dentro. Dos abusos de seu pai à morte da sua mãe, a mente de Bruce sempre foi cercada de dor, e Hulk era sua válvula de escape, mas, ao mesmo tempo, uma ilusão destrutiva, que, por mais que lhe blindasse de tudo, quando ia embora, deixava-o tão desolado quanto antes.

Hulk é sem dúvida um dos personagens mais complexos dos quadrinhos, cheio de dor, viradas e dramas psicológicos, sendo sem dúvida, um dos melhores personagens para analisar-se na ficção.

A Verdadeira Máscara do Batman

Bruce Wayne perdeu seu mundo aos 8 anos de idade, quando seus pais foram mortos diante de seus olhos por um assaltante qualquer. Desde então, Wayne dedicou sua vida a se preparar fisicamente e mentalmente, para combater o mal que destruiu sua família, assumindo a figura de um morcego, seu antigo medo de infância, para inspirar o terror no coração dos criminosos, usando seu maior trunfo, contra eles.

Porém, quem é a verdadeira face, Bruce ou Batman? Nenhuma obra trabalha melhor com esse conceito do que Batman: A Máscara do Fantasma. Aqui, Bruce inicia sua cruzada contra o crime, enfrentando não apenas as dificuldades da inexperiência, mas também, do amor. Ele conhece a jovem Andrea Beaumont, que faz seu mundo virar. Ele tem que dividir sua missão de vingança, com seu romance crescente. Sem conseguir conciliar ambas as coisas, Bruce se ajoelha diante do túmulo de seus pais, e pede perdão a eles, dizendo que pode continuar ajudando Gotham, mas não como um justiceiro, ele não podia mais correr esse risco, não por medo da missão, mas por não imaginar ser feliz no processo.

Porém, Andrea deixa Gotham, recusando seu pedido de casamento. Assim, o que restava de humana em Wayne, se foi, e ele pode enfim abraçar seu lado sombrio, tornando-se o Cavaleiro das Trevas.

Esse arco exemplifica perfeitamente a dificuldade de Batman de relacionar-se, de ser feliz, de ser humano. Ele não teme somente que as pessoas a sua volta morram, mas, teme também se apegar a elas.

Poucos entenderam tão bem essa verdade, quanto o Coringa, que mais de uma vez teve a chance de desmascarar seu maior inimigo, mas, preferiu não faze-lo, sabendo que por trás do capuz, estava a verdadeira máscara daquele homem.

E, como prova final, temos o momento em que Mulher Maravilha força Batman e Superman a segurar o laço da verdade e revelar seus verdadeiros nomes. Ela diz, Diana Prince, Superman diz Clark Kent, e Batman... diz Batman. Wayne é a máscara, o playboy bilionário e fútil é apenas uma fachada para esconder seu verdadeiro eu. Para o bem ou para o mal, Bruce não existe, apenas Batman. Por isso, ele não desiste de sua busca por justiça, pois aquilo não é somente um objetivo, é quase uma obsessão, é a única coisa que lhe motiva. Isso mostra o grau de complexidade por trás do Homem-Morcego.

Poder e Responsabilidade de Peter

Peter Parker inicialmente utilizou seus poderes para benefício próprio, mas ao perder seu tio, para um criminoso que ele poderia ter impedido, ele decide devotar sua vida ao combate ao crime, como forma de redenção por permitir sua morte.

O herói tem arcos ótimos, como quando deixou de ser o Homem-Aranha, ao perceber que as pessoas não eram gratas pelo que ele fazia, e que essa vida dupla estava acabando com Peter Parker.

Porém, ele simplesmente não consegue abandonar seus hábitos heroicos, retomando-os no primeiro sinal de perigo. Ao final da trama, o herói reafirma seu compromisso, afirmando que, apesar das perdas pessoais, é seu dever proteger as pessoas de Nova York, mesmo que elas o detestem. A maneira mais fácil de ler a atitude do herói é como um incondicional senso de empatia, que lhe fez abrir mão de todas as suas vontades em prol do bem-estar do próximo, no entanto, existe uma outra forma de analisarmos o caso.

De acordo com o próprio J.J. Jamenson, o Homem-Aranha possivelmente possui uma síndrome apelidada de síndrome do Cavaleiro Branco, onde o homem imagina ter a obrigação de se apresentar como um herói na vida dos outros, em troca de sua apreciação. No entanto, podemos descartar isso no caso de Parker, pois ele praticamente não recebe apreciação.

Por fim, podemos definir o Aranha como alguém que reagiu positivamente a um trauma, no caso a morte do Tio Ben, voltando sua frustração no esforço para proteger os cidadãos, sem nenhum traço de arrogância envolvido.

Superman e o Dever com a Humanidade

O maior símbolo dos super-heróis. Ka-El foi salvo por seus pais, Jor-El e Lara, que, prevendo o cataclismo de Kripton, enviaram seu filho em uma nave rumo à Terra. Ao chegar, Ka-El foi adotado pelos Kent e criado como seu filho, ensinando-lhe o valor da vida, esperança e de usar seus poderes para o bem, algo que era justamente o objetivo de Jor-El, que desejava que seu filho servisse como um guia para a humanidade.

O grande dilema do herói se passa justamente no ponto de até onde ele pode ir para ajudar a humanidade. Ele teria poder para impor a sua vontade sobre qualquer um, mas quase sempre se mantém o mais passivo possível, permitindo o fluxo normal das coisas, pois, como todos nós sabemos, ele não é humano, e por isso, não se sente no direito de decidir por eles, apenas auxiliar da melhor forma possível, o mundo que o acolheu.

Em 1972, a DC Comics publicou o seguinte quadrinho, Superman: O Mundo Precisa de um Superman? Na trama, os Guardiões do Universo analisam a interferência gritante que o Homem do Amanhã causa na Terra, entendendo que ele tem prejudicado o desenvolvimento natural da raça humana.

Durante a história, Superman reflete sobre sua cruzada. Será que sua desgastante vida dupla, na qual nem sequer consegue se sentir inclusivo no mundo, tem sido prejudicial para as pessoas? Afinal, ele compreende o que deve fazer e assume uma postura mais aconselhadora, interferindo somente quando a capacidade humana não é capaz de resolver, mas quando não for o caso, ele também estará lá, mas para guiar as pessoas para a decisão certa. Nada resume melhor a missão do Homem de Aço, do que a frase dita por seu pai, Jor-El, no filme de 1978:


“Eles podem ser um grande povo, Kal-El, desejam ser. Eles só precisam de alguém para mostrar o caminho.”

O Verdadeiro Patriotismo do Capitão América

Capitão América foi criada em 1941, como uma propaganda militar estadunidense, um exemplo do ´´Jeito Americano´´, o exemplo do homem a ser seguido, moralmente e esteticamente falando.

Steve Rogers era um jovem franzino e frágil, mas, com um imenso coração e vontade de agir, e por isso foi selecionado para o projeto do Super Soldado, no qual passou, tornando-se a grande arma dos Aliados contra o Eixo.

Porém, com o passar dos anos, Rogers deixou de ser apenas um defensor de bandeira, e sim, do povo. Na década de 1990, Steve Rogers foi expulso dos EUA, sendo inclusive desconsiderado cidadão Americano, adotando a identidade de Nômade, ainda lutando pelos ideais de seu país. Para ele, a pátria não é uma bandeira, um governo ou uma moralidade inalterada, e sim o seu povo, cujas vontades e necessidades se sobressaem a tradição.

Em Guerra Civil, mesmo envolto em uma cruzada um tanto egocêntrica, Rogers também lutou contra os mandos e desmandos do Estado, insistindo no meio tradicional de heroísmo, onde alguém com dons fazia o bem pelo próximo como um dever natural, e não uma missão assalariada, controlada por pessoas que muitas vezes, não cumprem o interesse daqueles abaixo de si.

Por isso, o patriotismo de Steve Rogers é tão fascinante, pois ele é direcionado a quem realmente representa o seu país. Além disso, ele também é mutável. Pois o maior valor, a bondade, é bem recebido em qualquer local do mundo. Por isso, Steve Rogers é chamado de Capitão em qualquer local do mundo, pois ele o simboliza a resiliência do bem sobre o mal, provando que a famosa frase de Tony Stark em Vingadores, estava errada, o que Steve tem de especial, definitivamente não veio de um mero frasco, e sim, de seu coração.

A Vingança Eterna do Justiceiro

Frank Castle iniciou sua cruzada contra o crime após uma sequência de traumas terríveis. Castle foi um veterano na Guerra do Vietnã, como foi visto na série HQS escritas por Garth Ennis, autor que deu uma nova profundidade ao personagem. Na guerra, Castle foi completamente consumido pela sede insaciável de morte. Mesmo com tudo perdido, ele não perdia o desejo de matar, mais e mais, inclusive de seu próprio exército, caso se opusessem a ele. Desde essa época, Frank mostrou ser um homem desequilibrado.

De volta ao seu país, ele teve o empurrão que mudou sua vida para sempre, a morte de sua esposa e filho, pelas mãos de criminosos. Furiosos, ele matou todos os envolvidos com crueldade, mas não parou por aí, iniciando uma cruzada eterna contra todos os criminosos, matando-os, não por justiça, mas por obsessão. O Justiceiro age como juiz, júri e executor nas ruas de Nova York, exterminando os criminosos sem piedade, algo aplaudido por uns e espantoso para outros.

Sua moralidade dúbia o leva ao conflito com outros heróis, como Demolidor e Homem-Aranha, que mais de uma vez quase morreram por sua causa. Com Matt, a coisa atinge outro patamar. Com o Homem Sem Medo, Castle confessa que sua mente está em um ciclo eterno, seu 'dedo coça', para matar mais e mais criminosos. Aquilo não é justiça, nem mesmo vingança, é uma necessidade irracional de seu ser.

Mesmo limpando as ruas de vários criminosos definitivamente, a violência continua, por vezes, fruto da que ele mesmo pratica. No fundo, Castle é tão louco quanto Rei do Crime, Retalho, Mercenário ou qualquer criminoso que ele enfrente. O arco de Castle demonstra que, quando alguém poderoso se rende aos seus desejos e tenta justifica-los como justiça, moldando uma moralidade distorcida para blindar-se, ele pode se tornar alguém tão perigoso quanto aqueles que combate.

Frank Castle não virou um monstro quando perdeu sua família. Ele já o era um, só precisava de uma desculpa para coloca-lo para fora.

O Eterno Arrependimento de Tony Stark

Tony Stark era um homem egoísta e egocêntrico. O império bilionário de sua família foi construído sob armas e guerras, e ele sentiu o horror que elas causam na pele, quando foi atingido pelos estilhaços de suas bombas no front de batalha, e quase morreu.

Após conseguir escapar, sua visão de mundo mudou completamente, e ele impôs a si mesmo a missão de reparar esse passado. Por vezes, essa necessidade lhe faz tomar decisões erradas.

Em Guerra Civil, o remorso pelos inocentes que morreram durante as batalhas dos Vingadores e dos outros heróis faz com que ele se alie aos políticos pró-registro, tornando os heróis meros funcionários do Governo e caçando todo aquele que se opusesse a isso, inclusive seus amigos.

Ele também foi responsável por prender o Hulk e enviá-lo para outro planeta, traindo seu amigo e causando todo o arco Planeta Hulk/Hulk Contra o Mundo, que provocou muitos estragos.

Até mesmo Ultron, um dos maiores vilões da Marvel, foi fruto da paranoia de Stark, que criou o robô com o intuito de obter um protetor perfeito para a Terra.

Por fim, compreende-se que Tony tem boas intenções, um grande arco de redenção, mas sua necessidade de fazer o bem lhe faz cometer erros, por ser capaz de passar por cima de tudo, inclusive da moral, para sentir uma sensação de dever cumprido.

Bom, essas foram nossas reflexões sobre a história e a moral de alguns super-heróis lendários. Se gostou, curta e compartilhe, para que possamos trazer sequências para esse quadro!

2 Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
Tier NERD
Tier NERD
Jul 02
Rated 5 out of 5 stars.

Show

Like

Rated 5 out of 5 stars.

Justiceiro e Hulk tão show

Like

©2022 por Lar Da Cultura POP. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page