Porque o Legends é melhor que o Cânon de Star Wars?
Em 2014, a Disney adquiriu a Lucasfilm, em uma negociação de mais de 4,5 bilhões de dólares. Após a compra, a Disney instituiu um novo cânone, considerando apenas os seis filmes originais, a série Clone Wars, e tudo que fosse lançado após a data da negociação. Assim, todos os quadrinhos, livros e games, que enriqueceram o universo Star Wars nas 4 décadas anteriores, foram intitulados como Lendas (Legends), podendo ou não, encaixar-se na nova cronologia. Mas afinal, qual universo é melhor: Canon ou Legends? Para nós, essa resposta é clara, e é isso que iremos debater hoje!
STAR WARS
11/15/20258 min read
Personagens e construção de universo


A maioria dos fãs de longa data da franquia deve conhecer lendas como Darth Revan, Darth Plagueis, Darth Bane, Meetra Surik (KOTOR II), Darth Nihilus (KOTOR II), Imperador Vitiate e tantos outros Jedi e Sith icônicos, que, por anos, expandiram os horizontes de Star Wars, para muito além da saga Skywalker, mostrando uma galáxia muito mais vasta e historicamente carregada. Darth Bane, por exemplo, teve uma trilogia inteira para desenvolver o arco da Regra de Dois, mostrando sua infância, conspirações e técnicas da Força. Um único personagem, muito bem desenvolvido por sinal, foi pilar para diversas explicações sobre a lore da saga, além de apresentar outros personagens tão interessantes quanto, como sua Darth Zannah e General Hoth.
Eventos que ocorreram milênios antes dos filmes compunham um universo riquíssimo, ao mesmo tempo que construíam personagens fantásticos, que muitos queriam ver nas telas do cinema. Games como Knights of The Old Republic traziam, mais que tramas cinematográficas. Lendas da saga, como Satale Shan (Old Republic), Malak, Darth Malgus (Old Republic), Sion (KOTOR II) e tantos outros que se tornaram icônicos, além de planetas, naves e conflitos marcantes.
Linha do tempo dos filmes


Nesse ponto, falamos apenas dos eventos pré-Ameaça Fantasma. Quando embarcamos nos eventos que ocorrem durante e após os filmes, o conteúdo se torna ainda mais fantástico. Darth Plagueis aborda todo o planejamento dos filmes, anos antes de Ameaça Fantasma, encerrando-se ao longo de seus eventos. Temos também o lendário confronto entre Darth Vader e Darth Maul, que também foi descanonizado. No pós-Retorno de Jedi, temos simplesmente a Trilogia Thrawn, de Timothy Zahn, que basicamente ressuscitou Star Wars nos anos 1990, com o retorno de Luke, Han e Leia, e o surgimento de um novo e brilhante vilão. Indo para as HQs, temos a saga Império Negro, que traz a versão mais poderosa de Luke Skywalker, um Palpatine renascido e a continuidade da linhagem Skywalker, que, ao longo dos quadrinhos, aborda até seu último descendente, Cade Skywalker. Quando o novo cânone foi instituído, todo esse conteúdo foi descartado e jamais foi devidamente reposto.
Em 11 anos, a Disney não abordou nem 1% do pré-Ameaça Fantasma, limitando a franquia ainda mais aos filmes e às poucas séries e jogos lançados desde então, destruindo uma construção de universo fantástico. O pós-Retorno de Jedi é simplesmente desastroso, talvez com exceção de Mandaloriano e Ahsoka. Séries massacradas pelos fãs como Livro de Boba Fett e a polêmica trilogia Sequel acabaram por prender os fãs à trilogia clássica e prequel, uma vez que existe um desinteresse crescente pelos novos materiais. Não à toa, muitos fãs pedem pela restauração do Legends, algo que dificilmente acontecerá, infelizmente. Enquanto o Legends expandia livremente o universo, o Cânone atual limita-se a reproduzir eventos dos filmes e poucas séries, com personagens e histórias muito menos desenvolvidos.
A título de curiosidade, vamos comparar os sucessos literários do Legends com os mais recentes do cânone.
Games


Antes da compra da Lucasfilm pela Disney, os jogos de Star Wars expandiam o universo da franquia de forma magistral, explorando linhas do tempo e personagens muito além dos filmes. Títulos lendários como Knights of the Old Republic levaram os fãs a milênios antes da trilogia prequel, com jogabilidade inovadora, personagens memoráveis e forte conexão com livros e quadrinhos — o que tornou esse período o verdadeiro auge de Star Wars nos games.
Na sequência, The Force Unleashed e sua continuação apresentaram ao público Galen Marek, o Starkiller, um dos personagens mais poderosos da saga, apelidado por fãs de “Goku de Star Wars”. Apesar de não tão cultuados quanto KOTOR, ambos impressionaram pela fluidez da gameplay, gráficos acima da média e pela sensação única de enfrentar Darth Vader e Palpatine utilizando o máximo poder da Força. A influência do jogo mostrou-se enorme, com muitos fãs pedindo a entrada de Starkiller no novo cânone. Para a tristeza de uns e alegria de outros, isso dificilmente acontecerá. Starkiller é um personagem OP demais, até mesmo para o padrão de poder absurdo do Legends, com muitos lhe desconsiderando até mesmo naquele período. Um personagem com tamanho poder simplesmente não funcionaria na proposta mais "pé no chão" adotada pela Disney.
O primeiro Battlefront também surgiu nesse período, inicialmente como um simples shooter online, que acabou esquecido com o tempo.
Com o início da era Disney, uma empreitada mais experimental e, ao mesmo tempo, segura, foi iniciada. Um período de grandes jogos multiplayer, com jogabilidades previsíveis, simultaneamente a outros que exploraram terrenos ainda mais pisados por Star Wars e outros que reformularam completamente outras franquias.
Os dois Battlefront da Electronic Arts (2015 e 2017) dividiram opiniões: enquanto os gráficos e o som atingiram níveis inéditos, a falta de conteúdo no lançamento e a polêmica das microtransações (típicas da empresa, quem joga FIFA sabe) em Battlefront II mancharam a recepção inicial. Ainda assim, os modos multiplayer seguem ativos, apesar de apenas Heróis vs. Vilões ainda movimentar milhares de fãs diariamente.
A franquia LEGO Star Wars, iniciada em 2005 com LEGO Star Wars: The Videogame, alcançou seu ápice com The Skywalker Saga (2022). A obra reinventou completamente o gênero, oferecendo jogabilidade variada, vasto mundo aberto (ou melhor, “galáxia aberta”), centenas de personagens e fidelidade surpreendente aos filmes, sem perder o humor infantil característico da série — considerada por muitos o melhor LEGO de todos os tempos. Não à toa, esse foi o jogo mais rentável da franquia, com mais 3,2 milhões de cópias vendidas.
Por fim, Jedi: Fallen Order e Jedi: Survivor elevaram o nível dos jogos canônicos. Protagonizados por Cal Kestis, ambos combinam exploração, combate e narrativa densa durante a Guerra Civil Galáctica, com clara influência de jogos RPG.
Em suma, ambas as eras entregaram grandes experiências, mas é inegável que o período pré-Disney se destaca por seu impacto, ousadia narrativa e influência duradoura entre os fãs de longa data da saga.
Quadrinhos e Séries


Aqui, creio que entramos em um campo onde existe certo equilíbrio. Os quadrinhos de Star Wars originalmente surgiram já em 1978, logo após o sucesso de Uma Nova Esperança, narrando algumas aventuras de Luke e seus amigos em meio à guerra contra o Império. As primeiras HQs, lançadas pela Marvel e publicadas pela Bloch, eram desastrosas — roteiros sem sentido e artes duvidosas marcaram um início turbulento. Mas, esse definitivamente não seria o fim da relação Star Wars/Marvel. Já tive a oportunidade de ler algumas dessas histórias, e devo dizer que são no mínimo…. lamentáveis. Após o fim da trilogia clássica, Star Wars ficou na geladeira por quase uma década, até ser revivida por Herdeiro do Império, de Timothy Zahn. A Marvel licenciou seus direitos sobre as HQs de Star Wars para as mãos da editora Dark Horse, que começou seus trabalhos com a saga a partir de 1991, com a notória saga Império Sombrio, com Luke Skywalker no auge de seus poderes, e um Imperador Palpatine renascido. Tales of The Empire veio logo em seguida, em 1993, reacendendo o interesse dos fãs pela galáxia muito muito distante, pavimentando o caminho para a trilogia prequel iniciada em 1999. A Dark Horse continuou no comando dos quadrinhos de Guerras das Estrelas até 2010, tendo produzido entre 2006-2010, a série de HQs da Velha República.
Após 2014, a Disney tornou as HQs uma de suas prioridades, como peça fundamental da expansão da nova mitologia. Darth Vader foi o bastião dessa nova empreitada, com mais de 50 edições lançadas, propondo um profundo desenvolvimento de sua faceta emocional, além de cenas extremamente badass. Boba Fett, Han Solo, Doutora Aphra e Poe Dameron, são algumas das linhas de quadrinhos criadas pela Disney, cuja continuidade segue até os dias de hoje. Apesar de nem de perto serem tão icônicos, é inegável que existe um padrão de qualidade regular, jamais veremos as aberrações das décadas de 1970/1980, enquanto a Disney for responsável.
Enquanto os quadrinhos passaram por essa transformação editorial, as séries viviam uma revolução própria.
No campo das séries, talvez a Disney encontre seu trunfo. Clone Wars, considerada pela maioria dos fãs como a melhor série animada de Star Wars, foi canonizada pela Disney, mas foi produzida durante o período pré-compra. A série traz o auge do conflito entre República e Separatistas, mas, desenvolve diversos arcos fantásticos: A entrada e saída de Ahsoka da Ordem Jedi, o declínio de Anakin, o retorno de Darth Maul, a tentativa de vingança de Boba Fett, as maquinações de Palpatine, e muito mais. A série possui 7 temporadas, e 133 episódios, com uma aprovação média de 93% no Rotten Tomatoes, sendo a mais bem avaliada da saga. Por outro lado, pouco foi feito além disso. Tivemos a animação 2D de mesmo nome, iniciada em 2003 e cancelada ainda em 2005.
A Disney, por sua vez, passou a produzir diversas séries inéditas, além da última temporada de Clone Wars. Mandaloriano sem dúvida foi o maior trunfo dessa nova fase, sendo um verdadeiro renascimento da franquia, revelando-a para um novo público, especialmente por meio do icônico Grogu, mais conhecido como Baby Yoda. O Livro de Boba Fett e Kenobi surgiram em seguida, sendo alvo de muitas críticas. Star Wars: Rebels, foi a principal investida da empresa no ramo das animações, mantendo uma conexão com Clone Wars, mantendo um estilo consideravelmente semelhante, além de resgatar antigos arcos e personagens, como Ahsoka, Rex e Darth Maul. A série é a segunda animação mais bem avaliada de Star Wars, com 85% de aprovação do público, e 98% da crítica.
Por fim, ambos os momentos têm seus méritos, e também, suas fragilidades. Creio que em quesito HQs, a Disney leva vantagem, com melhores roteiros e arcos, além de uma coesão muitíssimo superior. Porém, as animações pré-Disney são mais icônicas e bem avaliadas, mas em quantidade muito menor que no pós-Disney. Nesse ponto, é uma questão de pura opinião.
Conclusão: Enfim, concluí-se que o novo cânone, apesar de criticado por muitos do Fandom, tem sim seus méritos, mas, não desenvolveu tão bem o universo quanto nas décadas do Legends, que ainda possuem uma variedade muito maior de personagens e histórias. Por isso, pessoalmente, considero o Legends, como a cronologia definitiva de Star Wars, dando o devido valor a todo o trabalho feito pela Disney. O cânone pode ter o controle, mas o Legends tem a alma. E você, qual lado da galáxia escolhe?
